sexta-feira, 27 de maio de 2011

Chico denovo no Boteco

Trocando em Miúdos
Chico Buarque & Francis Hime


Eu vou lhe deixar a medida do Bonfim
Não me valeu
Mas fico com o disco do Pixinguinha, sim!
O resto é seu

Trocando em miúdos, pode guardar
As sobras de tudo que chamam lar
As sombras de tudo que fomos nós
As marcas de amor nos nossos lençóis
As nossas melhores lembranças

Aquela esperança de tudo se ajeitar
Pode esquecer
Aquela aliança, você pode empenhar
Ou derreter

Mas devo dizer que não vou lhe dar
O enorme prazer de me ver chorar
Nem vou lhe cobrar pelo seu estrago
Meu peito tão dilacerado

Aliás
Aceite uma ajuda do seu futuro amor
Pro aluguel
Devolva o Neruda que você me tomou
E nunca leu

Eu bato o portão sem fazer alarde
Eu levo a carteira de identidade
Uma saideira, muita saudade
E a leve impressão de que já vou tarde.

quinta-feira, 26 de maio de 2011

Descortinando 2

Porque não consigo me contentar com a sensação de fazer tudo certo.
As vezes penso que é o errado que me agrada mais profundamente.

quarta-feira, 25 de maio de 2011

Mais uma frase amável do mestre Saramago

"Escrevemos porque não queremos morrer.
Esta é a razão profunda do acto de escrever."

José Saramago

terça-feira, 24 de maio de 2011

Bom dia

Bom dia de sorriso amarelo ao espelho
Cheio de espuma branca na barba
Cheiro de fumo na roupa de ontem
E muita vontade de fazer algo diferente hoje

segunda-feira, 23 de maio de 2011

Saramago e sua pérolas

"Dizer de mais é sempre dizer de menos."

O homem de pedra

A importância de cada passo após o tombo
A displicência do inexperiente com o essencial
O resultado da busca
O sentimento do fracasso

É assim que se sente o homem em sua caminhada diária
Em sua luta pela sobrevivência na selva de pedra
Em sua busca pela vontade de ser mais
Em seu Karma desconhecido

quinta-feira, 19 de maio de 2011

Seja o que Deus quiser

"A primeira vez que te vi lembrei
Da primeira vez que me apaixonei
E de repente o lugar que eu pisava desapareceu

Acho que era errado, se bem que deu certo
Como o horizonte ficasse mais perto
A boca do teu desejo engoliu o meu

O bem me quer
O mau também me quer
Eu to como o diabo gosta
E seja o que eu quiser"

Paulinho Moska

quarta-feira, 18 de maio de 2011

Pontuando a canção

Sambam o ponto e vírgula
Num compasso quadrado de uma nota só
Cantam o som e a pausa
Numa cadência entoada com o acorde dó

Se a canção parar
Um deles se parte em três
E vai o musicista tocar
Aquela nota mais uma vez

terça-feira, 17 de maio de 2011

O espelho e o homem

Não me suba aos olhos o sangue da raiva
Nem me inunde o corpo a sede de guerra
Que fique somente a sobriedade da paz dentro de mim
Que esteja somente em mim o amor

Se for pra falar de amor
Que seja puro e humano, não material
Se for pra sonhar com Deus
Que seja ele, de fato, somente sobrenatural

Se for pra pedir perdão que peça hoje e não depois
Seja antes que a razão permita
Beba antes que a saliva entregue
Sofra antes que a dor

Afinal nos falta tão pouco a propor
Tão pouco a servir desse prato frio da vida
Que viver sem noção do que vale mais de fato
Me assusto, e grito socorro ao espelho

segunda-feira, 16 de maio de 2011

Concluidamente apaixonado, coitado!

Ele a olhava concluindo que havia encontrado,
Enfim, sua paz espelhada e traduzida em forma de mulher.
E se deliciava ao saber que mesmo estando errado,
Em parte, sempre no final fazia tudo valer como o quer.

E vinha aos dias pensando:
Talvez esteja ali o que vinha eu procurando.
Nesses passos todos tortos em busca da resolução
Sobrou no fim a sensação estranha da consumação.
Inesperada.

Mas justamente aí que entram os pormenores do destino.
Se é que existe alguma lógica consumada.
Pelo menos posso dizer, eu cá com meu desatino,
Que enfim descobri o valor da mulher amada.

Cafona ou não, o amor é necessário.
Um mau que inunda a humanidade e o homem de prazer.
De razão, mesmo que em momentos súbitos pareça justamente o contrário,
O amor no fundo sempre soube o que fazer!


Diogo Gomes
15.05.2011

quinta-feira, 12 de maio de 2011

Mário de Andrade

"Eu sou um escritor difícil
Que a muita gente enquizila,
Porém essa culpa é fácil
De se acabar duma vez:
É só tirar a cortina
Que entra luz nesta escurez."

"Quando eu morrer quero ficar
Quando eu morrer quero ficar,
Não contem aos meus inimigos,
Sepultado em minha cidade,
Saudade.

Meus pés enterrem na rua Aurora,
No Paissandu deixem meu sexo,
Na Lopes Chaves a cabeça
Esqueçam.

No Pátio do Colégio afundem
O meu coração paulistano:
Um coração vivo e um defunto
Bem juntos.

Escondam no Correio o ouvido
Direito, o esquerdo nos Telégrafos,
Quero saber da vida alheia,
Sereia.

O nariz guardem nos rosais,
A língua no alto do Ipiranga
Para cantar a liberdade.
Saudade...

Os olhos lá no Jaraguá
Assistirão ao que há de vir,
O joelho na Universidade,
Saudade...

As mãos atirem por aí,
Que desvivam como viveram,
As tripas atirem pro Diabo,
Que o espírito será de Deus.
Adeus."

Ambos poemas de Mário de Andrade! Grande nome da nova poesia no Brasil. Foi responsável pela criação das primeiras experiências, realmente novas, com a linguagem poética moderna no Brasil. Claro que, fez o que fez em busca do 'estilo novo', junto de muitos outros grandes nomes da cultura, poesia e arte brasileira. Porém, sem sombra de dúvidas, trata-se de um grande mestre.

terça-feira, 10 de maio de 2011

Poetas Velhos

"Bom dia, poetas velhos.
Me deixem na boca
o gosto dos versos
mais fortes que não farei.

Dia vai vir que os saiba
tão bem que vos cite
como quem tê-los
um tanto feito também,
acredite."

Paulo Leminski

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Um bom dia e boa semana a todos. Nada melhor que começarmos a semana com uma bela poesia! :)

sexta-feira, 6 de maio de 2011

Um pouco do mestre português - Fernando Pessoa

"Paro à beira de mim e me debruço...
Abismo...
E nesse abismo o universo.
Com seu Tempo e seu Espaço é um astro e nesse
Abismo há outros universos, outras
Formas de Ser com outros tempos, Espaços
E outras vidas diversas desta vida...
O Espírito é uma estrela... o Deus pensando
É um sol... e há mais Deuses, mais espíritos
Doutras maneiras de realidade"


Mistério do Mundo. Fernando Pessoa

quarta-feira, 4 de maio de 2011

Pais e filho

O pai ouve o sermão do filho atentamente
Vai lendo nos seus olhos o desejo de felicidade
Que aos poucos também inunda sua mente
Indo e vindo de encontro ao peso da idade

O filho fecunda enfim no seu velho
Um sentimento antigo e unânime de vitória
E despenteia todo o pentelho
Que insiste em contestar o sucesso dessa história

Aos poucos, pai e filho tornam-se ambos pão do mesmo trigo
Novamente, e então agora começam a iludir-se à busca do bem
Que mesmo com a dor deste castigo
Sabem bem, que bem algum vos pertence

E assim vai se levando a história cabo a cabo
Pouco a pouco, diluindo-se em hora e meia
Esvaindo-se em cada vocábulo esbravejado
Marchando qual sangue em sua veia

terça-feira, 3 de maio de 2011

Descortinando 1

A pretensão humana sob sua própria capacidade é a causa de sua ideologia hipócrita e individualista.

Diogo Gomes 03.05.2011